
Nunca foi fácil para eu ser a primeira ciborgue mulher, mas desde que o doutor Ryan Mascarelo chegou aqui na clínica, tudo ficou muito mais excitante.
Pelo menos o pior para mim já passou: desde que caí de uma montanha-russa que quebrou em um parque de diversões com o pessoal da faculdade, há quase um ano, muita coisa mudou, pois precisei de muitas próteses novas e também, por causa da rachadura no meu crânio com ferimento cerebral, tive que substituir parte de meu cérebro por uma anexação com nanorrôbos. Mas já me sentia melhor, podendo andar e me mexer novamente e só estava mesmo faltando um namorado para que minha vida voltasse ao que era.
Infelizmente, com isso eu não estava tendo sorte: a maioria dos rapazes ainda me olhava com medo por causa das minhas próteses e aquilo estava me destroçando, porque eu não queria me sentir um monstro, eu só queria receber amor como qualquer outra mulher normal.
Mas conheci psicólogos que me ajudaram em minha reabilitação e fui aprendendo a não me importar e não me fixar em pessoas que só me machucavam e levei um tempo praticando muita autoaceitação.
Até investi em uma rede social, postando fotos de meu corpo modificado para provar que uma mulher pode ser bonita ainda que fosse uma ciborgue e, em pouco tempo, consegui muitos seguidores que passaram a gostar de mim, mesmo eu sendo uma transhumana – uma mulher modificada pela ciência e tecnologia – e era legal poder ver que havia pessoas que sentiam curiosidade e interesse em me conhecer e que não era todo mundo que tinha preconceito comigo. Também parei definitivamente de sentir medo do meu corpo novo e passei a me amar mais – o que me deu toda a coragem que eu iria precisar, porque logo a vida me trouxe o doutor Ryan que me fez ver que eu não tinha mesmo que ficar atrás de meninos, mas de homens.
Ele tinha acabado de voltar da Califórnia e fiquei surpresa em saber que foi ele quem guiou a junta médica durante minhas operações, e que agora tinha retornado para o Brasil, após um período de extensão em medicina cibernética, para voltar a dirigir a clínica de fisioterapia para seres humanos que estavam passando por mais cirurgias cibernéticas e em qual eu estava internada, e passou a me ajudar em todo o meu processo de recuperação.
Só que logo notei um carinho especial dele por mim por eu ser a primeira pessoa na Terra a aceitar esses tipos de cirurgias, e como tudo estava indo bem comigo, outras pessoas começaram a aceitar os métodos desenvolvidos por ele e sua equipe.
Logo que eu fui para minha primeira sessão com ele, percebi como seus olhos azuis me olhavam com intenso desejo e gula, e eu, que estava há meses sem conseguir mais ninguém e estava odiando tanta solidão, aproveitei a chance o máximo que pude, também o olhando intensamente a cada oportunidade durante os exercícios de fisioterapia.
O resultado disso foi que rapidamente começou a rolar conversas nas quais fomos trocando muitas coisas em comum e rolou uma identificação alucinada entre nós dois, pois ambos tínhamos membros trocados por próteses, circuitos e partes com nanorrobôs, pois até Ryan tinha se machucado já várias vezes praticando competições velozes de motocross. E logo ele tomou coragem e pediu para sair comigo, e finalmente começamos a ficar. Mas nada era mais emocionante do que transar na clínica dele.
-Vermelho lhe cai muito bem – ele me elogiou e eu já me animei, sabendo a delícia que me aguardava. Ele ia me dar o remédio exato que eu estava precisando para me curar. Estávamos sozinhos na sala, e ele me ajudava segurando os meus braços enquanto eu levantava uma barra. Olhei-o sem entender, porque eu estava com uma blusa de manga curta branca e calça jeans azulada e de tênis cinza… Mas a minha calcinha e meu sutiã eram vermelhos… Então, logo percebi que aqueles incríveis olhos azuis estavam com câmeras acopladas por trás das íris dele, que realmente nem eram perceptíveis.
Senti um calor forte me percorrer com a maneira forte que ele me olhava, e eu sorri para ele o convidando para o que ele quisesse fazer comigo.
-Agora você pode se deitar, por favor? – ele me pediu, mas sabia que ele queria exercitar uma outra parte minha e eu fiquei o olhando ao deixar o jaleco na cadeira e tirando os sapatos pretos e caros enquanto isso. Deixou o relógio de ouro sobre a mesa e foi abrindo de leve os botões da camisa pólo, e eu já estava com a respiração ofegante, morrendo de expectativas com a cabeça virada para ele, assistindo-o deixar a camisa também sobre a mesa, e pude ver o tórax sarado que nem demonstravam suas placas cibertrônicas internas, substituindo costelas que tinham sido quebradas ao cair da moto, e só de saber dessas histórias dele, já me sentia toda excitada porque amava um homem que curtia uma adrenalina.
-O doutor precisa que eu levante minha blusa para não atrapalhar no exercício? – perguntei cheia de malícia, e ele concordou coberto de volúpia. Assim, pude revelar que ele acertou na cor de minhas peças íntimas, porque também falei que talvez fosse necessário descer minha calça jeans para facilitar nossa atividade.
Então Ryan subiu na maca e ficou sobre mim, pondo cada uma das pernas fortes ao lado das minhas, e se inclinou, enchendo-me de beijos gulosos entre aquela barba gostosa por fazer e eu podia jurar que meus circuitos internos iriam queimar com o rio de emoções que começaram a percorrer dentro de mim.
Ele foi descendo minha calcinha com dedos ágeis e eu abri a calça dele, descendo o zíper com a mesma pressa, afinal alguém poderia chamá-lo a qualquer instante e isso nos deixava ainda mais loucos para nos satisfazer o quanto antes.
Suas estocadas eram firmes e eu gemia baixinho para que não nos ouvíssemos. Ainda bem que a maca era firme e não rangia muito. No final, deleitamo-nos em um orgasmo cibernético ainda mais intenso que um gozo normal, pois nossos cérebros tinham nanorrobôs que espalhavam nossas sensações um para o outro via wi-fi. Sem dúvida nos conectávamos perfeitamente.
-Puxa Sandra, você é uma máquina mesmo – Ryan me disse todo ofegante, agarrando-me por trás e passando o braço por cima de minha barriga após nossa diversão, e estávamos de lado e encolhidinhos para não cair da maca não muito grande.
-Obrigada – respondi rindo satisfeita com o comentário.
-Sabe, eu queria falar com você assim que chegou, mas não agüentei ver você andando assim tão linda… – Ryan ainda beijava lentamente meus cabelos loiros ondulados, brincando com os fios em seus dedos a cada palavra e eu estava leve, tranqüila, protegida pelos braços fortes dele que acariciava ternamente.
-Pode falar, bebê.
-Eu quero lhe levar em um simpósio no Recife de Transhumanos, que vou participar em fevereiro. Do jeito que você está se movimentando com essas próteses, seremos um sucesso enorme.
O convite me encantou e eu aceitei prontamente.
E eu pude perceber no dia como que aquelas pessoas não me olhavam assustadas, pelo contrário, todas queriam me ver como se eu tivesse mesmo uma espécie de aura única.
Ryan me deu um microfone e tinha me ajudado uma noite antes com um discurso amplamente aplaudido e logo após, Ryan me ajudou a fazer com que aquela plateia gigantesca com diversos doutores e cientistas do mundo todo pudesse ver minha apresentação de dança com ele.
Dançamos uma valsa em frente de um telão com reconhecimento interno de corpos, e todos puderam ver nossas próteses por dentro de nós, enquanto bailávamos perfeitamente, sem tropeços e sem nada nas próteses que travasse algum movimento nosso. Isso agitou os cientistas e choveu de entrevistas para Ryan e eu depois de nossa apresentação e as pessoas passaram a querer introduzir os métodos de fisioterapia em suas clínicas rapidamente.
Agora vejo o quanto que Ryan me ajudou a me tornar muito mais conhecida e isso aumentou mais ainda dentro de mim o meu senso de autovalorização, fazendo-me para sempre esquecer de todos que um dia me falaram que eu não merecia amor por ser tão diferente.
Por Gisele Portes