
Rebecca voltou do trabalho e pegou seu diário
(seu único amigo verdadeiro)
e começou a escrever sobre seu calvário
e como se sentia em um corpo diferente, quase estrangeiro.
A ideia do diário tinha sido de sua psicóloga,
seguidora dos estudos sobre o poder da escrita,
mas Rebecca achava que quanto mais escrevia de forma monóloga,
mais que afundava com medo em sua própria desdita.
“O que estou fazendo de minha vida?”, questionava-se.
E tentava pensar em caminhos, elaborar quadros de contras e prós.
Mas “que rumo devo seguir?”, logo depois indagava-se,
perdida nos de seus próprios pensamentos nós.
Eram tantas opções na faculdade:
poderia ser qualquer coisa e ao mesmo tempo nada.
E era isso que a mantinha em forte ansiedade.
O desejo de não seguir o estabelecido a deixava alucinada.
Afinal, tinha acabado de completar seus dezoito,
e após uma vida cheia de regras e obediência,
não queria cair no erro de continuar ganhando biscoito
por cada comportamento correto, como um cão em subserviência.
Porque só ela sabia o preço que pagava por não ser si mesma,
por viver apenas imaginando o que gostaria de viver,
enquanto que no dia-a-dia, arrastava-se como lesma,
e sabia que há muito não vivia e estava apenas a sobreviver.
Então decidiu não mais só pensar
e a começar a agir.
Sabia que com todas aquelas opções inúteis nada iria ganhar,
além de raiva por ter que existir.
E pegou sua mochila para fugir naquela mesma noite,
rumo a uma decisão que podia dar errado, mas pelo menos era sua.
E saber que iria escapar dos outros o açoite,
fazia ainda mais convidativa a rua.
Por Gisele Portes