Compensação

Carmen estava cansada de ser sempre a última da classe.
Sonhava em ser advogada, e foi com esforço que se formou.
Mas era difícil se sentir satisfeita, mesmo que isso a abalasse,
pois embora não admitisse, a inveja sempre a acompanhou.

Sentia como que só as outras poderiam ter o que quisessem,
e que para ela tudo era mais difícil, só restando sobras:
sempre os caras que as outras não mais desejassem,
sempre empregos porcarias que serviam de chacota para as cobras.

Nos finais de semana nem queria sair de casa
e preferia ficar lendo do que em festas nada a ver.
E mesmo que no mundo real se sentisse pássaro sem asa,
pelo menos por meio dos livros, seu reino podia acontecer.

Assim, aprendeu que poderia compensar toda sua dor
a cada leitura que a transportava para novas possibilidades,
até que decidiu pôr em prática o que aprendera, para algo melhor
adquirir do que ter que passar por tantas adversidades.

Então, finalmente uma mágica em sua vida ocorreu:
quanto mais foi se empenhando em vencer os obstáculos,
notou que não incomodava mais as vitórias alheias, mas o que ela venceu.
E quando enfim olhou para si, tirou da mentira todos os óculos.

Agora sabia que nunca fora uma incapaz,
mas que sua baixa autoestima é que fora sua algoz.
Finalmente podia voltar a ficar consigo mesma em paz,
ciente do próprio poder tão grandioso e feroz.

Por Gisele Portes

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