
Sempre tive medo dos tempos frios,
porque os céus cinza sempre meu estado de espírito refletiam,
enquanto que a nave e sua isolação se juntava com meus vazios
e os ventos gelados meu duro passado me traziam.
Era impossível não me lembrar daquele período de clausura,
no qual eu não sabia distinguir o que era pior: o frio em mim ou o de lá de fora.
Pensava que seu amor me aqueceria, mas virei objeto de usura,
e não é o frio que à minha bochecha esse frio cora.
Os flocos que caem me recordam da neve vermelha
da noite que somente fui encontrar amparo no braço da justiça,
e que depois já longe de você, um policial foi para mim uma centelha
de esperança ao me revelar o quanto que um psicopata sua vítima enfeitiça.
Demorei para entender a agressão daqueles meses gelados,
e que eu não tinha culpa de nada, ao contrário do que você dizia,
pois sempre fui fiel, mas você é que me fez me sentir cheia de pecados,
e muitas noites, vaguei acompanhada de noite escura por rua vazia.
Mas agora graças aquele mesmo policial,
estou recomposta e pronta para um novo amor tão bom quanto chocolate quente,
e estamos juntos apreciando essa época glacial,
numa estação de esqui, e já me sinto com meu passado indiferente.
Por Gisele Portes