
Tantas foram as vezes que eu quebrei a cara,
que eu já tinha decidido meu coração aposentar.
Mas eu apenas não via seus sinais de forma clara,
de tanto que meus sentimentos eu resolvera enterrar.
Todo dia depois do trabalho eu ia na sua livraria,
sentar para tomar um café e ler algum romance,
sonhando com coisas que eu nunca viveria,
embalada em dor autoimposta, sem ver de seu sorriso a nuance.
Eu tenho tendência pessimista de achar que nunca nada vai dar certo,
e só faço algo se eu testar e mil vezes antes analisar.
Mas à medida que nós íamos conversando e você ia ficando por perto,
logo comecei a me surpreender e vendo algo em você a se destacar.
Sua gentileza, seu capricho, até de guardar meu título favorito
ou de me servir sempre com muita atenção,
foram coisas que mais do que tirar dos meus dias o peso maldito,
já ia carregando meu coração de nova fascinação.
Mas como nos romances de fantasia que eu amava,
eu mesma em alta torre me enclausurei.
E com meu próprio ego ferido uma batalha ferrenha eu travava,
e sobre seu convite para uma noite em reflexão me debrucei.
“Devo ir?”, “Mas e se ele também me abandonar?”.
Eram questões que reviviam em mim velhas humilhações,
de uma coleção de tentativas frustradas a me escravizar
no medo de iniciar novas relações.
Contudo eu estava cansada de só viver em mundos de fantasia,
e você me mostrou que todas minhas feridas poderiam ser esquecidas,
sendo o príncipe a me resgatar daquela tristeza que nunca terminar parecia,
e que me deu uma nova chance de viver o que só achava em páginas lidas.
Por Gisele Portes