
Ainda me lembro do dia que você partiu
e de quando meu coração não mais sorriu.
Parecia que aquela dor ia para sempre durar,
quando a TV sobre a tragédia com seu trem passou a noticiar.
Um correspondente de telejornal
e uma médica sem fronteiras: nosso amor já não era normal.
Só que para nós a distância nunca foi um problema.
Agora, entre a vida e a morte: para isto não há esquema.
E junto ao penhasco que seu corpo tragou,
também derrubei lágrimas até que um dia tudo secou.
Sete anos de muito negro luto,
precisava deixar esse sentimento bruto.
Mas nenhuma boca tinha seu gosto.
Todos os braços me envolviam em desgosto.
Tentar viver sem você parecia te trair.
Virei viúva do nosso passado em mim ainda a existir.
Resolvi então com meu trabalho casar,
e embora curasse a muitos, o meu coração nunca pude curar.
Na cama vazia ao meu lado
só seu retrato me via pendurado.
Mas certo dia em minha porta alguém bateu,
e no que abri, meu coração ressuscitou e estremeceu.
Você voltou, me dizendo que há anos me procurava,
mas o que atrapalhou, é que toda hora de endereço eu trocava.
Foi então que finalmente recuperei meu aconchego.
Paz que me nutre, segurança quente em cada chamego.
Quem tem amor, já tem sua casa,
mesmo que vá longe na da vida asa.
Por Gisele Portes