
Desde criança quando olhava para o céu estrelado,
sonhava em ver não só estrelas, mas toda a galáxia.
Qual não foi meu espanto quando na TV fora anunciado
que Andrômeda com a Terra em breve se chocaria!
Pessoas corriam pelas ruas em agonia
e meu coração só pulava de entusiasmo.
Não era maldade, apenas velho sonho – eu me dizia,
embora sentisse em mim mesma uma ponta de sarcasmo.
Era nítido que todos desejavam o fim do mundo
e que eu não era a única a aguardá-lo com expectativa.
Eram tantos problemas, confusões e mal profundo,
que a morte parecia uma proposta atraente e convidativa.
Muitos até se sentiam honrados,
porque ao invés de um fim comum ou lastimável,
por doença ou ineficência de governos e Estados,
todos teríamos extinção nunca vista e memorável.
Mas chegou o dia e como para todo grande evento astronômico,
o céu estava nublado e ninguém viu foi nada.
Que tempos chatos de fake news que até as estrelas riem de modo cômico
de nossa vidinha comum e frustrada.
Por Gisele Portes