Casa Nova

Quando comprei essa casa nova,
eu queria apenas mudar de vida.
Pensava que mudar de endereço serviria como prova
de que eu por uma transformação estava decidida.

Não aguentava mais o que as paredes antigas guardavam
como história de um passado que não vale a pena lembrar.
Quantas coisas ruins elas testemunhavam…
Eu lá dentro afogada em lágrimas; o jardim lá fora a secar.

No natal todos admiravam nossos enfeites e luz,
mas não sabiam quão miserável era nossa ceia.
Presentes por todo lado para cobrir de você não estar presente minha cruz.
Eu vazia diante de uma mesa cheia.

Aquela mansão foi ficando pequena no horizonte,
conforme meu carro a deixava para trás.
Louca para muitos que não sabiam que eu fugia de meu aqueronte.
Não ligava para pensão, amolação, só queria de volta minha paz.

Um canto novo para uma alma querendo voltar a cantar
– coisa que você também me proibiu de fazer.
Cansei de ficar imóvel naquela casa como mais um troféu seu a brilhar.
Meu desespero foi meu melhor conselheiro para enfim dali desaparecer.

Só que mesmo em um novo lugar,
meu coração pelo passado continuava apaixonado.
As primeiras noites pareciam apenas a me torturar,
e me fustigava a insegurança de não ter mais você ao meu lado.

Me custou, porém aprendi
que não basta mudar só por fora, mas também por dentro.
Assim, voltei a viver quando descobri
que não importa morar na periferia se estou no meu centro.

Por Gisele Portes

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