Neve Negra

Faz alguns dias que uma neve negra não para de cair
e que o céu ficou todo avermelhado.
Andando pelas ruas vejo casas vazias, vizinhos a sumir.
Mas algo me prende aqui: coração a um problema atado.

O que assusta aos outros a mim me alegra.
Talvez porque já ao dormir, ainda na infância,
quem ao meu sono ninava com a canção da dor na íntegra
era a solidão substituindo dos meus pais a ausência.

Gritos de desespero são meu rock’n’roll.
Danço na rua, o gelo preto massageando meu rosto,
o único que agora parece entender quem sou.
O apocalipse para mim é um prazer e não um desgosto.

Para quem sempre teve monstros como pets de estimação,
o fim é apenas um velho amigo enfim vindo me visitar.
Abraço agora a partida com satisfação.
Sempre soube que esse mundinho pequeno não era meu lugar.

Por Gisele Portes

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