
Rodeado por cadáveres,
eu sabia que seria o último a ficar.
Mas ainda que a neve tentasse me roubar de meus deveres,
minha força de vontade não iria congelar.
Quando decidimos escalar essa montanha,
já sabíamos dos perigos que teríamos que enfrentar.
Para mim, era apenas contra minha ansiedade uma artimanha:
um desafio, algo inédito, algo que me tirasse do tédio a me matar.
Porém, não há treino que impeça a morte e seu imprevisto,
que ela usa para nos tirar de nossa certeza
de que podemos controlar tudo que nos é malquisto.
E as rochas venceram nosso equipamento e destreza.
Se eu queria algo forte que me tirasse do marasmo de minha vida,
não sei quando assinei de perder meus amigos o contrato.
Na fogueira, ao meu lado apenas a solidão e a noite gélida.
Cada minuto mais distante de um resgate o contato.
Mesmo assim no meio do caos encontro a paz
– paz que nunca tinha sentido em meus dias.
Enfim diante da inevitabilidade que o destino traz,
agora sim dou valor ao que vivi e às poucas mas presentes alegrias.
Por Gisele Portes