
A torre na qual me enclausurei
não é feita de cimento, madeira nem barro.
Junto comigo nesse quarto onde me tranquei,
minha escuridão e traumas que toda hora com sangue escarro.
Minha pele branca enfeitada com lindas escoriações.
Um colar de hematomas a ornar meu pescoço.
Me massageio o tempo todo com torturas e arranhões,
apavorando minha alma a gritar debaixo de meu osso.
Não há pior inimiga que uma mente que odeia a si própria.
Não há mais terrível cárcere que pensamentos descontrolados.
Com foco no que não presta, viram apenas uma lupa imprópria
ampliando o poder dos inimigos me esperando do outro lado.
Lá fora ainda está a preocupação exacerbada.
Andando gorda com seus pés inchados,
batendo na porta para deixar minha angústia mais incentivada
a continuar me batendo até ver meu amor-próprio e fé dilacerados.
Meu maior vício é me perder no medo.
Gosto de me assombrar, de me deixar em constante estado de alerta.
Esperando pelo irreal, catástrofes imaginárias que crio em segredo,
enquanto lá fora tudo é sol, verde e a primavera deixando a flor aberta.
Não vou ser feliz debaixo da corrente
da autossabotagem e da autodepreciação.
As duas riem feito assassinas excitadas enquanto quebram até meu dente.
Cega sem ver outra realidade, parece que só vivo presa nessa humilhação.
Mas consigo virar o jogo
quando num impulso de vingança,
agora sou eu que as espanco para me livrar logo
desse horror e as esmago sobre meu pé até que ele se cansa.
E da boca de uma emoção destruída sai a chave
que eu precisava para minha verdadeira liberdade.
Chega dessa prisão que afastou de mim minha alma em um enclave.
Deixo encarcerado tudo que para mim foi só inutilidade.
Por Gisele Portes