
Havia na cidade um famoso oculista com óculos
que prometiam curar a visão até dos pessimistas,
trazendo uma nova visão, e com lentes preparadas com cálculos
capazes de mudar o ângulo do olhar até dos mais vitimistas.
O sucesso de seu nome crescia a cada novo cliente:
os óculos faziam até o mais desiludido novo amor encontrar;
o mais inconformado de sua fé apagada se tornar ciente;
e tornava até o que mais se odiava capaz de com ternura se observar.
Mas qual era dessas lentes o mistério,
foi o que muitos poderosos e políticos quiseram saber.
Já que não queriam que de repente a população visse a mentira sem critério,
e arrumaram um assassino para fazer o oculista desaparecer.
Na calada de certa noite,
o assassino já estava no quarto do médico dormindo.
Pegou sua faca para marcar o homem com corte pior do que açoite,
mas ele tinha um par de óculos e colocou no assassino, de sua sorte rindo.
O assassino fez de tudo para os tirar,
mas assim que os olhou enfim abriu,
percebeu que toda a dolorida vingança a sua mente a torturar
era apenas mancha a enganá-lo, e muito o agradeceu pelo o que descobriu.
E aceitou com o oculista se unir
para naquela mesma noite pôr os óculos até nos mandantes do crime.
Alguns resistiram, mas a cegueira geral na cidade acabou por sucumbir:
todos perceberam o quanto que um olhar novo não mais nos oprime.
Por Gisele Portes
Muito bom! Parabéns :). Me lembrou do filme “Eles vivem”, do John Carpenter, onde o protagonista encontra uns óculos pretos que revelam ideologias e as mensagens reais por trás de propagandas. Conheces?
Oi, Hamilton! Obrigada pelo elogio! E sim, já assisti a esse filme, que é ótimo por sinal, e realmente suas considerações contemplam a ideia que quis passar com esse poema sobre como muitas vezes não enxergamos as verdades da vida e as consequências disso. 😉👍