
Continuo vagando à procura de um doce lar,
mas do que adianta fugir da casa mal-assombrada
dentro de mim, se lá fora os prédios também estão a me devorar?
Parece que as avenidas de minha angústia serão ainda minha morada.
Fui jogada em um mundo que não parece para mim ter lugar.
Vivo sem endereço definido, sem fronteira demarcada.
Alma andarilha, sem pertencer, sempre em vão a caminhar.
Não sei se vim do céu ou do inferno, para cima ou para baixo, busco a escada.
Há bestas selvagens à solta na floresta,
só que também pelas cidades, mastigando todos que estão sozinhos.
Para dentro de mim mesma jogo a única corda que me resta.
Sou pássaro desprezado que com esforço faz seu próprio ninho.
Porém, todo esse desprezo me fez me voltar para mim,
e agora sei que não há melhor casa que meu interior.
Me decoro com ternura, me reformo com paz e planto carinho no meu jardim.
Daqui não preciso ir mais embora, tenho tudo que não achei no exterior.
Por Gisele Portes