Longe do Bando

Quando olhei para trás, eu já estava longe do bando.
Os outros eram agora pontinhos, faíscas de cinzas distantes,
indistintos contra o horizonte, e não resisti ao comando
e convite dele me chamando para viagem reconfortante.

Meu espírito inconstante sempre se espremeu no uniforme.
Minhas crenças diferentes nunca serviram para orelhas pequenas.
Tanto me esforcei para ser igual, mas só deixei minha essência disforme.
Sempre fui tratada por todos como a forasteira, a bastarda, a indígena.

Foi assim que caiu minha ficha e vi que para ninguém faria falta.
Talvez minha ausência por muitos fosse até comemorada.
E apesar de sentir saudades das coisas, a razão me assalta
e me faz ver que em meu coração nenhuma face será memorada.

Por que socializar e me fazer entender
por quem não aceita quem eu sou?
Se minha real identidade não lhe apetecer,
não vou é ficar perto de quem só me dispensou.

E antes que eu me perdesse de mim,
resolvi largar esse retrógrado rebanho.
Minha própria lã já me esquenta, posso achar melhor capim,
e quando olho para meu reflexo no lago não mais me acanho.

Por Gisele Portes

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