
Escutei a porta batendo, era a morte prematura.
Como tinha chegado antes da hora,
resolveu apenas me aconselhar que essa loucura
só iria me levar mais cedo embora.
Fechei a porta na cara dela,
devia ser outra vertigem ou delírio.
Olhei com desprezo para os remédios – em pote, minha cela.
Mas a mensagem e sua razão martelava meu juízo feito martírio.
Se eles vendessem nas farmácias
perdão para quem nos machuca;
piedade para quem nos prejudica com sua audácia;
eu levaria tudo, custasse o que fosse – qualquer preço seria mixuruca.
Vi demais da escuridão do mundo e isso muito me marcou.
E sem confiar, era como morrer um pouco a mais a cada dia.
Ela também de meu coração o último fôlego de esperança roubou.
Toda vez que tinha que interagir, antecipadas vinham a dor e angústia.
Parecia que a mesma história só iria sem fim se repetir.
Eu já sabia o começo, o meio e o fim.
Nenhuma novidade por vir.
Eu já estava morrendo profundamente dentro de mim.
E deitada antes de meu túmulo, no sofá,
foi que de tanto pensar, percebi que era de foco uma questão.
Eu posso sim mudar o acontecimento que virá,
se eu puder meu pensamento para o bem dar nova direção.
E com esse raciocínio
abri a janela de novo sem medo de novos intrusos.
E assim vi que não era a morte, mas um anjo com seu vaticínio
só me livrando de meu exagero e de meus dramas cheios de abusos.
Por Gisele Portes