
Naquele dia eu voei até
chegar no galho mais alto.
Que lá embaixo ficassem os caçadores de minha fé
em mim mesma – ali, minha paz não seria vítima de assalto.
Foi duro notar que os outros pássaros não queriam minha amizade,
que só porque eu era uma coruja e eles não, era vista com diferença.
A tristeza logo fez minhas penas caírem, meu canto estava sem personalidade.
Tímida, voava esbarrando em tudo, e só crescia o ódio por minha presença.
Certo dia os outros pássaros fizeram um cerco ao meu redor
e enfraqueceram minhas asas de vez com sua ofensa.
Vulnerável e com fragilidade, meu voo não se sentia nem mais do céu merecedor.
Só parei de chorar com uma folha que bateu em mim me deixando tensa.
Mas não senti mais raiva pois querendo ou não ela era minha única companhia.
Pus a cabeça para fora da toca e vi no alto da montanha de onde ela veio.
Era um ponto tão inacessível que notei que ninguém mais iria.
E me lancei na busca de mudança, me movendo pela nova vontade que sobreveio.
Descobri que aqui posso me dar o melhor ninho que há.
A vida agitada lá fora não pode mais me atacar.
Minhas penas e meu brilho voltaram porque nenhum mal mais me encontrará.
Agora tenho as folhas e o céu perto de mim – amigos de verdade para amar.
Gisele Portes