Ligação Errada

Uma ligação errada mudou outra daquelas noites repetidas:
assistindo a nada na televisão,
comendo no sofá pipoca com manteiga derretida
junto com minha velha amiga solidão.

O telefone que raramente tocava, tocou.
No que atendi, percebi que era um aflito suicida.
O jovem queria falar com a central de ajuda mas trocou
por meu número e sem me deixar explicar, contou de sua vida.

Em pouco tempo com seu sofrimento me envolvi.
Já tinha os meus, mas os dele além de piores, eram muito semelhantes.
Ambos fracos, sem direção – e tudo por ouvir palavras erradas, concluí.
Vítimas de um momento de vulnerabilidade, nos ligamos com crenças ignorantes.

Ouvi seu chamado por um auxílio e acalmei seu choramingo.
“Se você se entregar, eles ficarão mais forte com sua derrota.”
“Escute a si mesmo, que você acertará mais no bingo.”
De repente eu não falava com ele, mas comigo – me curando de toda a lorota.

Não sei se o ajudei ou se o salvei.
Só sei que pelo menos saí de meu próprio processo de morte.
Larguei o conforto do sofá novo que comprei
e sabia que a partir daquele dia, uma outra vida teria novo norte.

Por Gisele Portes

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