
Uma garrafa quebrada preferia ficar sozinha.
Poderia ficar com outras latas e copos no lixão
conversando, rindo e trocando pecuinha.
Mas entre todos os iguais, ela era a contradição.
Afinal ninguém lá se importava com a sujeira e arranhões,
nem com o prazo de validade vencido,
ou se foram a descartes antes de terem utilizações.
Mas seu senso deveria ser por ali o único lúcido.
E resolveu parar de fingir que estava tudo bem sem estar,
e decidiu para o galpão de reciclagem
sem pensar duas vezes rolar,
na busca de para seus cacos ainda haver colagem.
E se antes se sentia infeliz e danificada,
agora poderia ser de crianças caleidoscópio,
ou dar origem a uma linha renovada,
pois nunca se viciara no comodismo com seu ópio.
Por Gisele Portes