Capítulo do e-book Como Programar o Amor
Olá, minhas Galáxias!
A partir de hoje e também nos próximos sábados, vou postar os primeiros capítulos para degustação do meu novo e-book Como Programar o Amor.
Ainda não conhece? Este incrível romance de ficção científica de distopia romântica que apresenta um mundo futuro onde relacionamentos afetivos que não deram certo podem ser vividos de uma forma melhor através de relações de pessoas com robôs inteligentes e humanoides já se encontra disponível na Amazon Kindle através dos links:
Agora vamos para o primeiro capítulo e espero que gostem!
1. Verdadeiro ou Falso
Estou ansiosa para esta noite e até desligo meu computador antes mesmo de salvar as linhas de código que eu tinha acabado de digitar. Sei que tenho que apresentar na segunda o protótipo de implementações de melhorias no cérebro eletrônico para cães robóticos, mas hoje ainda é sábado, então primeiro eu vou aproveitar a noite e amanhã eu acabo esse negócio. Abriu um bar novo no centro da cidade e o Guilherme vem me buscar dentro de uma hora.
Corro tomar um banho e coloco uma jeans colada de couro preto e uma blusinha da mesma cor. Penteio meu cabelo castanho escuro e liso até os ombros e o prendo em um rabo de cavalo, deixando umas mechas caindo de cada lado sobre minhas orelhas. Passo uma sombra e lápis obscuros em meus olhos também castanhos e não abro mão do batom preto. Ele me disse que vai rolar um show da banda cover gótica dele e quero estar a caráter.
Deixei meu celular no carregador e o pego com pressa, já esperando alguma mensagem clássica dele do tipo: “Estou chegando aí, administradora do meu coração”, ou “Esta noite vai precisar de uma expansão, pois será pouca para nós dois”, mas ele não me enviou nada hoje.
Será que fiquei tão concentrada durante o dia programando que nem ouvi meu celular tocando?
Checo a parte de ligações recebidas, torcendo para que não haja nenhuma perdida do Guilherme porque sei que ele é ciumento e não quero que ele ache que eu estava curtindo tanto outra coisa que nem me importei de atendê-lo. Apenas peguei muito trabalho freelance esse mês fazendo a back-end e o front-end de um projeto de criptomoedas, e simplesmente se não fosse por um e-mail da Laura Ferreira, a chefe do meu setor de programação de sistemas, me perguntando se meu protótipo já estava sendo finalizado, eu realmente iria me ferrar muito na segunda. Aí sim, eu iria começar bem minha semana.
Só que no máximo tenho várias notificações de meu próprio grupo de conversas do trabalho e da criptomoeda e o vácuo profundo e incomum do Guilherme.
Olho no meu smartwatch e já se passou uma hora do horário combinado. Alguma coisa está estranha e resolvo eu mesma ligar para ele.
O celular chama, chama e nada.
Escuto uma buzina de drone, mas é minha mãe que pediu uma pizza para comer com meu pai enquanto eles assistem a mais uma série asiática bizarra.
Ela me encontra com a porta semiaberta do quarto e me pergunta, carinhosa:
— Filha, é de calabresa com cheddar impressos no capricho que você ama também! Quer comer com a gente e assistir o episódio que acabou de ser lançado do Horrible World?
Às vezes eu acho que minha mãe sofre de adolescência tardia por gostar desses doramas malucos cheios de gente morrendo o tempo todo de formas absurdas e horripilantes. Ela me diz que faz parte do trabalho dela de cineasta e diretora de arte de uma produtora web, mas não tem como não achar estranho demais.
— Obrigada, mãe, mas codei o dia todo — respondo com a voz até mais cansada do que eu imaginava. — Estou vendo códigos binários pelas paredes e até na sua cara. Preciso de um ar fresco agora e como algo por aí.
Pego minha bolsa e meu capacete e me despeço de minha mãe (me pedindo para não ficar até muito tarde na rua, sendo que já sou de maior, com meus incríveis 23 anos) e digo tchau para meu pai que reclama da dublagem brasileira errando a pronúncia dos nomes dos atores coreanos.
Meu pai é diplomata e dou um beijo nele antes de me despedir.
Essa noite de setembro está quente e seca, e minhas roupas carregadas no preto não estão nada adequadas.
Enquanto desço a escadaria do prédio ao invés de usar o elevador para poder esticar as pernas após o dia todo sentada, dominada pela preocupação porque o Guilherme nunca me deixou sem respostas por tanto tempo, continuo mandando mensagens compulsivamente para ele:
Gui, cadê você?
Se esqueceu do combinado?
Outros cinco minutos no vácuo e nada.
Gui, por favor, fala comigo…
Estou ficando preocupada.
Mais dez minutos e nada.
Porra, Gui, um zumbi comeu seus dedos e por isso você não me responde?
E nada.
Louca de raiva guardo o celular no bolso, e já estou na minha moto saindo do estacionamento, quando recebo uma ligação. Pego meu celular tão rápido que quase o derrubo numa boca de lobo na rua em frente ao prédio em que moro.
— Alô! — De repente, perco um pouco da animação. — Ah, oi, Débora!
É a minha prima e não a peste do Guilherme. Aliás, a essa altura, quase nove da noite e não mais seis horas, é bom mesmo que ele tenha pegado a própria peste negra. Só então penso se perdoo o bolo que ele me deu pelo visto e eu nem sei o motivo.
— Priminha… eu preciso muito ver você. Posso ir à sua casa, agora?
Chama-me a atenção o tom pesado da voz da Dé. Geralmente ela é toda escandalosa, ainda mais se for para fofocar sobre a vida dos outros, e geralmente numa sexta-feira nesse horário está ainda mais animada, já lá pela quarta caipirinha. Mas algo de errado não está certo.
— Por quê? É tão babado assim o que você quer me contar? Ficou sabendo de alguma fraude monetária que vai bombar os noticiários do país pelos próximos dias ou algum outro segredo de estado e quer uma parceira para a delegacia?
A Dé trabalha com informática também, mas na parte da auditoria digital pelo governo, na Receita Federal, em São Paulo, e brinco muito com o que ela pode descobrir ainda só para chateá-la. Porém, ela está com o humor péssimo; só não sei se rivaliza com o meu pelo bolo amargo com cobertura melosa de frustração que levei de meu namorado e que estou tentando disfarçar com piadinhas anarquistas.
— Olha, eu já te falei não sei quantas vezes que odeio fofocas. Pare de me comparar com essas meninas sem noção que só ficam cuidando da vida de subcelebridades que você assiste enquanto enrola no trabalho. — A Dé me repreende, e eu sei que deve ser coisa séria dessa vez, pois normalmente ela cai no deboche também.
Desde meninas brincávamos juntas, e a conheço como a palma da minha mão. Sei quando ela não está bem. E pressinto que ela não está nada bem.
— Calma, Dé. E viu, eu já estou na rua. Trabalhei o dia em home office e preciso muito relaxar. Vou comprar um misto quente e vou aí, pode ser? Eu só não quero ficar enfurnada em casa e com meus pais que sempre deixam a TV com o volume no máximo e aquela gritaria de zumbis matando humanos idiotas o resto da noite.
— É que eu não sei se você vai relaxar, Cibele… — A voz dela agora sim, se ainda não me preocupou, se torna um start terrível para minha ansiedade disparar.
— O que é isso, mulher? Larga de drama. Não quer mesmo me adiantar se você se envolveu com algum político e entrou como laranja em um esquema de desvios de impostos, né?
O assunto pelo jeito é denso demais para caber na nossa ligação. Caramba, será que todo mundo pirou hoje? Só a ouço bufando que nem uma vaca louca e me xingando até a próxima reencarnação. Mas sei como ela é, e afasto meu ouvido do celular antes de estourar meus estimados tímpanos.
Desligo, coloco meu capacete e sigo pela Avenida Interface-B. Moro em Wifia, uma das mais novas smart cities inaugurada pelo governo, e a noite está estrelada e bonita, apesar do calor e de que alguma praga invisível invadiu a cidade e todo mundo parece que perdeu a cabeça hoje. A casa da Débora fica a apenas vinte minutos do prédio onde moro e no meio do caminho, passo antes na lanchonete adorável e super high-techda Dona Fátima, que faz lanches maravilhosos com suas máquinas que trabalham personalizadas ao gosto de cada cliente que é escaneado logo na entrada.
Há muito tempo não fico tão mordida de raiva e de inseguranças. Não sei o que deu na Débora e nem mais quero continuar mandando mensagens humilhantes e sofrendo sem respostas do Guilherme. Só sei que quando meu namorado voltar a dar um sinal de vida que seja, vai ter que ter uma desculpa muito boa por ter furado comigo hoje, se não, vou deixar a pele dele com outros tipos de tatuagens mais vermelhas e roxas do que as tribais atuais dele.
Fátima é uma senhora baiana muito divertida e caprichosa, e no momento, ela me atende pelo web telão acima da bancada das máquinas pré-programadas de sanduíches, sucos e sorvetes. Ela me conta que está na unidade na capital enquanto as máquinas preparam meu pedido e um robô-garçom prateado me entrega meu lanche embalado e até ganho uma trufa de presente, depois de pagar com meu celular por QR Code. Como o doce com o maracujá derretendo na boca e parece que ela leu meus pensamentos, porque precisava de algo para me tranquilizar.
Guardo o lanche na bolsa e sigo para a casa da Débora. Ao chegar, acho estranho que ela está me esperando já na frente do portão, sem nem esconder a aflição do rosto ainda maquiado.
— E aí, o que houve? — Pergunto para ela, descendo da moto e notando seus olhos castanhos vivos apreensivos. Com certeza ela tinha saído também, porque está com uma blusinha azul escura com detalhes brilhantes na gola e calça elegante marrom de couro e sandálias brancas.
— Vem, é melhor você se sentar. — Ela puxa minha mão de forma amigável e a gente se senta em cadeiras com almofadas floridas da mãe dela. A garagem é cheia de plantas e há uma fonte com pedras e água. Sempre gostei dessas coisas New Age e a mãe dela tem uma loja de esotéricos muito interessante. Talvez ela tenha algum chá ou pó para fazer namorado sumido aparecer.
— Anda, Débora. Você está aí toda nervosa. O que está acontecendo? — Pergunto, enquanto já abro no dente o envelope de ketchup para pôr em meu lanche. Ela me olha com reprovação antes mesmo de eu dar a primeira mordida. — Eu falei que você ia ficar com vontade. — Falo contrariada já rachando metade do lanche para dividir com ela.
— Não, para. Como você pode pensar em comida me vendo nesse estado?
— Ah, eu estou com fome. Só consegui comer um macarrãozinho instantâneo na frente do PC. Estou lotada de trabalho, credo. Mas na hora de aumentar o salário, meu chefe se faz de desentendido.
— Eu avisei que o assunto é pesado, Cibele.
— Pesado como? — Ela está com a cara feia e sem querer perder tempo. Mas eu não posso também perder a muçarela ainda quentinha. E se a coisa for feia mesmo, não vai ser com o estômago vazio que vou resolver.
— Você gosta muito da Monique, não é?
Pronto: noto que realmente a coisa que vamos tratar vai ser brutal. Seu tom de “Será que falo mesmo?”misturado com pena me deixa bem mal e repouso a caixa do lanche no colo, olhando-a com atenção de verdade.
— O que tem ela?
— Saiu com o seu namorado em um encontro hoje. — E antes mesmo que eu pense que é algum tipo de ataque de ciúmes pela amizade muito forte que surgiu com a Monique logo que ela foi contratada e passou a trabalhar na Metarrobia comigo este ano, ainda mais porque fizemos uma expansão de três meses em Redes Neuronais com foco em Entendimento de Reações Emocionais Humanas, na Colômbia, a Débora me mostra na tela do celular dela fotos que me fazem perder toda a fome, talvez por dias.
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