O Lobo e a Cabana [Poesia]

Noite triste de muita neve.
Só não sei se há mais gelo lá fora ou em mim.
Coração não para de chorar, mas antes que a morte me leve
preciso correr e fugir do meu fim.

Errei muito em entrar nessa floresta desconhecida.
O orgulho de querer saber demais me prejudicou.
Agora estou com fome de segurança e perdida.
E de novo me persegue o mal que tanto me marcou.

Lobo feroz, lobo de dentes ensanguentados.
Fascinado, sabe que sangue igual ao meu não há.
Seus olhos maléficos me estudam entre os arbustos amassados.
Se eu não for esperta, serei vítima de escolha que foi muito má.

Encontro uma cabana abandonada e não hesito em entrar.
Meu único desejo é me esconder — talvez de mim, ou da perseguição?
Não posso deixar que as memórias do passado voltem a me assassinar.
Por favor, se existe algo de bom ainda, tire de meu caminho essa assombração.

Olhos de fúria! Olhos que há muito tempo devem me conhecer,
encaram-me através da janela que torço para não quebrar.
Só queria nunca mais precisar outra vez te ver…
Lobo agressivo! Lobo perverso! Só quero para sempre te esquecer.

Nem que para isso eu precise a tudo incendiar.
Nesse mundo de angústia todos no fundo devem querer
O mesmo que eu — seja árvore, neve ou quem mais aqui habitar:
algo que lhes possam o frio do desgosto aquecer.

E no fogo da justiça que antes não veio,
acabo tanto com a vítima quanto com o predador.
Em uma vida de prisão e sufoco só tive um anseio:
poder escapar de meu monstro e sentir da liberdade o esplendor.

Por Gisele Portes

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