
Só quero me refugiar em um lugar esquecido.
Me afastar de tanto grito, barulho, confusão.
Um campo, um deserto, meu palácio não conhecido.
Um ponto inexistente no mapa, não detectada localização.
Mas será que fujo dos outros ou de mim?
Reclamo do abandono, mas tenho ódio do espelho.
Não me lembro do meu início, não aceito esse fim.
Não quero diálogo, vou me fechar, desligo todo aparelho.
Olho para o teto cinzento.
Só que olho mais fundo em meu passado.
De amigas, só quero essas paredes, a solidão é meu alento.
Já carrego comigo um estigma muito pesado.
Mas vejo que um dia desejei estar exatamente aqui,
entre relva seca e luzes apagadas.
Posso ouvir os pássaros, ver o pôr-do-sol daqui.
Sem mais culpa, sem lembranças maculadas.
Tive que deixar tudo para trás:
status, glamour, relacionamentos.
Às vezes apenas temos que achar a nossa paz
onde não tem lógica nem fundamentos.
Por Gisele Portes