Capítulo 5: Aumento de Velocidade [Como Programar o Amor — Degustação]

Capítulo do e-book Como Programar o Amor

Olá, minhas Galáxias!

Cibele está vivendo um momento muito complicado em seu trabalho. Se já não bastasse a terrível descoberta de que seu namorado Guilherme está envolvido com sua melhor amiga e grande colega de trabalho, Monique, ainda Cibele percebe que o novo projeto de robôs femininas de acompanhamento afronta seus ideais e as perspectivas sobre seu futuro dentro da empresa Metarrobia se tornam nebulosas. O que Cibele fará agora?

Ainda não leu os capítulos anteriores? Acompanhe aqui as postagem anteriores :

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Sentiu curiosidade? Segue então o capítulo de hoje logo abaixo. E se você está curtindo esta minha nova história, adquira hoje mesmo o e-book completo pelos links:

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Agora vamos para o quarto capítulo e espero que gostem!

5. Aumento de Velocidade

  — Cibele, eu não quero atrapalhar essa sua conversa peculiar com a Tamara, mas realmente preciso falar com você — me fala Guilherme em tom sério e mandão, e se antes eu achava isso sexy, agora soa completamente abominável e deixo que ele perceba que reviro os olhos.

  — Calma, Guilherme. Apesar da minha preferência, a Cibele e eu trabalhamos juntas e a vejo como uma boa amiga e só. Não que você seja de se jogar fora, Ci, porém, curto mais as mulheres negras.

  — Obrigada pelo elogio, Ta. Aliás, não sei se você já jogou o nosso Paraíso Profundo, mas consegui criar e aplicar um mod sensual e o uso para descarregar as energias quando preciso.  — Continuo conversando animada com a Tamara e a dando toda a atenção do mundo para pagar a ignorada que o Guilherme me deu na mesma moeda, deixando-o parado ao lado de nós duas feito poste. — Inclusive, se você gosta de asiáticas, meu mod permite customizar personagens e liberá-los para ficar com sua avatar. Ou você pode chamar algumas amigas online para se divertirem juntas.

  — Mas que ideia genial, Ci! Realmente a Metarrobia gastou muito para desenvolver esse game no Metaverso, mas nem vendeu muito porque é chato demais. Agora que tem um bom sistema para aproveitar sua modelagem e construir outras coisas e cenários alternativos, é verdade. 

  Parece que a Tamara pegou o espírito da coisa e participa de meu raciocínio até com certa solidariedade ao notar que quero mesmo dar um gelo nele.

  Tento não prestar atenção no otário que está tentando ao máximo se segurar, porque já entendeu que eu também fiz o que bem quis com algo da empresa do papai dele e não avisei ninguém antes. Só que ao contrário do que ele fez nas minhas costas, um joguinho inocente não vai interferir em nada na vida de centenas de milhares de pessoas e nem vai abalar o relacionamento de casais… Aliás, disso ele gosta.   — Cibele, vai ser rápido… — Guilherme quase me implora, contrariado, porque é lógico que ele está chocado em saber que fiz um mod hot do Paraíso Profundo. Mas ele não tem moral nenhuma para me condenar, já que pelo jeito a Metarrobia vai descambar de vez para o mercado do prazer, nem pode também me irritar ainda mais, porque acha que se for gentil e fofo eu vou dar ouvidos a ele.

— Tamara, você não tem ideia de como ficou bom! Na minha conta adicionei avatares personalizados de vários atores de filmes hot que são uma pura tentação. Que tal acessarmos agora para pegar uma base com a interação dos personagens? Ou se você preferir, a gente baixa uns filminhos mais apimentados e a Laura nem vai puxar nossa orelha porque não deixa de ser material de pesquisa para nosso trabalho.

   — E tem atrizes também?  — Tamara me indaga toda empolgada com as possibilidades.

   — Claro que sim! No meu Metaverso pode ter o que o usuário quiser acrescentar!  — respondo, impressionada com minhas próprias habilidades de marketing, porque praticamente a Tamara já está querendo comprar uma conta de avatar para ela passar o tempo de uma forma mais interessante.

   — É sério, Cibele. É muito importante o que tenho para lhe dizer. — E como o abusado que eu descobri que ele é, Guilherme perde a paciência e se coloca de braços cruzados no espaço entre minha cadeira e a da Tamara apenas para que a gente não possa mais conversar em paz, olhando no rosto uma da outra como pessoas normais. 

  Percebo a tensão muscular em seu corpo e acredito que eu tenha conseguido finalmente incomodá-lo, pois o cara travou as mandíbulas, pasmo com o que eu revelo. A gente ainda nem conversou sobre esse meu mod. É recente e estive desenvolvendo isso mais como forma de distração até a hora de deixar meu expediente, já que eu sempre termino rápido minhas tarefas do dia e achei que era algo legal para ficar desenvolvendo até dar meu horário de sair da empresa com o Guilherme e nem imaginei que minha maneira de ver o que poderia ser melhorado nesse game e implementar minha própria visão, acabasse interessando outras pessoas. 

  Ele continua parado, insistindo. Saber dessa forma rústica que também tenho vida própria, limites e segredos que ele não pôde explorar, me leva a suspeitar que o irrita profundamente. Só que ele continua ocultando sua vontade de soltar os cachorros em cima de mim. Puxa, cadê meu ex-namorado banana?, e mais ainda que vejo que o melado dele azedou.

  — Você está nos atrapalhando, Guilherme. Não vê que estamos ocupadas, discutindo nosso plano de trabalho? — protesto com a intromissão dele e a Tamara de repente fica preocupada com a tensão entre a gente.

  — Eu não vou tomar tanto assim do seu tempo precioso — ele persiste, mastigando cada palavra zangado com a minha resistência. Contudo, até onde sei, ele é quem está errado.

  —Nossa, me deu uma fome! Vou fazer um lanchinho. Vocês querem alguma coisa também da cozinha? — Tamara nos pergunta com a voz esganiçada, levantando-se. A coitada está com medo que sobre alguma coisa para o lado dela, visto que eu e o Guilherme estamos trocando olhares bem feios, e quer tirar o corpo fora. Com essa interrupção chata, pessoalmente perdi minha fome.   

  — Pare de bobeira, Tamara. Nós estamos no nosso departamento e em horário de trabalho. Ele é que deve se retirar e não nos importunar. A não ser que ele precise de nossa ajuda para alguma tarefa da área dele. — Fixo o olhar no Guilherme com a maior frieza que posso. Obtenho sucesso, porque ele fica completamente desarticulado com isso. 

  Tamara me fita angustiada e eu a olho de lado rapidamente, indicando um pedido de um pouco de sororidade feminina.  Ela capta o que necessito e passa a encarar o Guilherme junto comigo com expressão seca de quem pergunta “O que você tanto quer?”

  — Bem, desculpa então se vocês estão tão ocupadas assim. Espero que a gente possa conversar depois do expediente. Com licença! — Guilherme enfim se cansa de ser enfadonho e vai embora sem deixar de me dar uma última olhada na porta da saída do setor, fuzilando-me, mas devolvo todos os tiros para ele. Ora, além de me trocar quer o quê, agora? Manter-me na geladeira como um kit semipronto que ele pode pegar assim que quiser, descongelar e preparar para comer quando a Monique não estiver disponível?

  — Agora sim, vamos esquematizar um pouco nossos próximos processos. Mas preciso de sua ajuda, está bem?

  — OK, Ci, eu te ajudo, mas não sei se vou conseguir me concentrar direito com a sala toda olhando assombrada aqui para o que você acabou de fazer.

Dou uma olhadinha fazendo o tipo de esnobe para outros funcionários, e até cruzo as pernas e dou um tchauzinho fofo para os que ainda ousam ficar observando a minha vida e a da Tamara. Isso quebra com os curiosos mais resistentes.

  — Eu não fiz nada demais além de pedir um tempo porque temos muito o que fazer — comento de forma despreocupada e isso ajuda a Tamara a se tranquilizar. No entanto, nem eu mesma sei de onde é que consegui puxar essa força interior para enfrentar o cara que a menos de uma semana parecia ser a pessoa que eu mais amava no mundo. 

***

  No final do expediente, estou no estacionamento da empresa, ligando minha moto para ir embora o quanto antes de um dos piores dias que já tive nesse serviço, quando vejo a poucos metros Guilherme vindo em minha direção com passos firmes e apressados, chamando alto meu nome. Sem nem pensar duas vezes, disparo e meu desejo é que um buraco de minhoca se abra neste instante na avenida e me sugue para qualquer outra parte do universo.

  Infelizmente o tormento já tem o carro dele e, pela primeira vez, lamento muito gastar tanto do meu salário com mensalidades de games, armas novas e skins personalizáveis para meus personagens de várias contas online de MMORPGs que possuo. Ele fica ao meu lado quando a droga do semáforo fecha, e eu não posso pegar mais uma multa neste mês, senão, vou ter que comer papelão ensopado na água do vaso sanitário.

  — Recarreguei meu motor essa manhã antes do trabalho e se tiver que te seguir até o inferno, eu irei, Ci. Não adianta ficar fugindo.

  Não quero nem olhar para a cara do Guilherme, gritando para mim pela janela do carro preto 4×4 com asas enormes mas recolhidas, o que intimida pelo tamanho ao lado de minha pequena, mas prática, moto amarela.

  Mas não vou evitar respondê-lo do jeito que ele merece:

  — No inferno já estou! — Respondo rápido, querendo parecer forte, mas acaba soando o quanto que estou emocionalmente abalada. E isso me deixa ainda mais furiosa.

  — Posso te ajudar a sair dessa. Você está entendendo tudo errado, razão da minha vida — Ah, não. O covarde quer me amolecer à força…

— Você não percebeu ainda, mas perdeu faz tempo a razão — grito ainda mais alto, sem olhar para trás e acelero, recortando feito um jato entre outros carros e motos, aproveitando a velocidade e tamanho da minha moto como vantagens diante do carro elétrico dele. Guilherme pelo visto gostou de perder mais Créditos e continua me perseguindo, mandando para o espaço as leis de trânsito.

  Preciso despistá-lo e o jeito é ser veloz. Vou checando o retrovisor. Ele é habilidoso demais no volante e não tenho outra opção a não ser contrair alguns descontos mesmo, e altero a velocidade, além de acionar as asas.

  Misturo-me entre os carros voadores na parte aérea da pista, sem nem dar sinal para os demais, devido à minha pressa. Simplesmente me enfio onde dá, e nem ligo para as buzinas de gente que nem entende que estou sofrendo uma perseguição obsessiva.

  Droga, este idiota vai me fazer perder a live justo hoje de lançamento do game Insane PixelWorld que estou há seis meses aguardando. Já estou até com o ticket online comprado e pelo jeito vai ficar invalidado sem eu ter curtido nada do evento. 

  Passo tão rente a um caminhão autônomo com carregamento de produtos para construção de circuitos eletrônicos que quase fico sem mais ver nenhuma live nessa vida.

  Preciso sumir do mapa e, definitivamente, não quero nenhuma conversa por hoje. É muita humilhação para só um dia.

  Atravesso vários aros gigantes e suspensos de sinalização e já estou fora de Wifia. Finalmente não vendo mais o carro preto maligno, tenho tempo para ativar o GPS de minha moto e descubro que estou na pista aérea que leva à cidade vizinha, Usblândia.

  O visor de minha moto mostra que estou sobrevoando a 150 metros do solo e há naves longas acima de seis metros, tanto de transporte de carga quanto de pessoas, híbridos e robôs, nessa faixa de trânsito celeste, então eu sei que estou bem encoberta entre elas, porém, não estou plenamente tranquila. Pressinto que a obsessão do Guilherme é tão grande que ele deve estar acompanhando meu voo através de um radar com a IA do GPS dele, tentando me rastrear pela placa digital de minha moto.

  Esse é o problema de termos todos os nossos perfis nas redes sociais compartilhados e a única maneira de ele perder meu rastro é tomando uma atitude drástica.

Saio do circuito e voo pela margem direita, afastando-me da pista M2-180 e indo até um posto elétrico.

  — Oi, por favor, preciso de um novo IP identificador para a minha moto. Vou entrar em Usblândia agora e meu IP não vai ser reconhecido pela rede de alimentação porque está já com o prazo vencido e me esqueci de atualizar antes de viajar — explico no balcão do posto após estacionar, e o robô-atendente simpático escaneia meu rosto e minha moto e em poucos minutos meu número de placa já está atualizado e aponto meu celular para pagar pelo serviço no sistema de QR Code do local — estou ficando quase sem Créditos para tocar o resto do mês. Mas pelo menos no mapa do GPS do Guilherme a setinha amarela que ele achou que ia pegar fácil não existe mais.

  Até Usblândia levo mais uns vinte minutos, e voar por aqui está um pouco mais frio e úmido do que há alguns quilômetros, exigindo que eu habilite o visor de proteção ocular no guidão de minha moto para proteger meus olhos dos respingos no ar. Paro em um hotel próximo da entrada principal da cidade, toda arborizada. 

  Nem a pau que agora o Guilherme vai me localizar e só preciso ficar fazendo hora por aqui e amanhã na empresa vou ter que abrir uma denúncia por assédio, que aposto que vai fazê-lo largar do meu pé de vez.

  Depois de acertar um quarto, eu tomo um banho e peço uma refeição enquanto plugo meu smartwatch e celular na parede para recarregá-los. Já devo ter perdido uma hora da live, todavia, assim que tenho bateria de novo, acesso o site de evento pelo meu celular e o reflito na parede do quarto. Dando garfadas na minha comida, vejo um braço robótico deixando minha água mineral numa mesa e fechando a portinha do serviço de quarto.

  Caramba, preciso ligar para a minha mãe não ficar louca achando que fui sequestrada, e vai ser dose explicar porque não fui para casa e onde estou.

  — Mas justo hoje que preparei seu prato favorito de arroz no forno com mortadela e ervilhas, você não vem para casa? — ela choraminga na tela da videoconferência e fico bem chateada porque tive que comer arroz com ovo frito para não gastar ainda mais com essa montanha de imprevistos se acumulando em minha vida.   — É que preciso fazer uma pesquisa para meu projeto aqui em Usblândia e por isso que não vou conseguir voltar hoje, mãe. Estou estudando um pouco a tipologia robótica

dessa cidade que é maior que a nossa, a senhora sabe, e tem uns tipos diferentes para eu registrar e fazer considerações.

  Dou a desculpa mais forçada que posso. Mas não deixa de ser verdade que pelo menos a quantidade de profissionais do sexo em Usblândia é bem maior do que na pequena Wifia e se bobear, eu posso sair ainda para uma pesquisa de campo ainda hoje, até porque agora é a adrenalina da perseguição em alta velocidade que enfrentei que não vai me deixar dormir.

  — É uma pena, querida. Até porque o Guilherme também está aqui e pensei que vocês combinaram de se ver.  Podia ser um jantar em família, né? Você sabe que terei que viajar no fim de semana com o diretor daquele filme de fantasmas da Argentina que te falei…

  Nossa, me esqueci totalmente e me sinto meio mal por ter simplesmente deletado de minha mente essa viagem importante da minha mãe e queria ficar mais tempo com ela.

  —Mãe, desculpa mesmo. Só que eu preciso desligar agora porque a pessoa que vou entrevistar acabou de chegar. A gente se vê depois.

  E encerro a ligação antes que o Guilherme ainda escute nossa conversa e queira se intrometer também. Estou decepcionada comigo mesma porque aquele imbecil do Guilherme além de mentir na minha cara, agora está me levando a mentir para minha própria mãe.

  Nem mais consigo prestar atenção no resto do evento e desligo meu celular. O negócio vai ser tentar tirar leite de pedra e de fato procurar uma zona para desencargo de minha consciência.

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