
Leia enquanto acompanha a poesia:
Minha pele guarda ainda uma velha história.
Sou a criança que no quarto escondida chora.
Junto com o bicho-papão encontro paz contraditória.
Debaixo de minha cama, onde não passa a hora.
Mamãe está gritando com papai.
Outro vaso quebrado, justo o que eu a dei de presente.
Negligência, minha barriga ronca de fome — ai!
Para cada palavrão, uma mutilação gratuita, corte nada rente.
Ego ferido, identidade com curativo e atadura.
Hipocondria, da farmácia vou para outra loja de roupa.
Os carros querem dançar sobre meu corpo, velocidade que fura.
Moletom ensanguentado, policiais choram por vida que a dor não poupa.
Por Gisele Portes