
Leia enquanto acompanha o aúdio da poesia:
Era uma cidade peculiar de prédios de celofane
e os habitantes eram homens de plástico bolha.
Lá conversa alta e grupos era algo infame.
O certo era cada um na sua; árvore de única folha.
Cada um fechado em seu mundo, foco no seu dispositivo.
Quando se esbarravam na rua, perdidos de atenção,
pouco se resmungava, eram leves e para discussão sem motivo.
Mas a paz foi interrompida após o vendaval de um furacão.
Uma sociedade sem conexão.
Pessoas da mesma família sem se conhecer.
Amizades superficiais, tudo artificial e sem relação.
A qualquer perigo, fica fácil estourar e esmorecer.
Quando o vento veio, levou o teatro de papelão.
Vidro, metal e plástico: tudo uma coisa só.
Cataclismos fazem reciclagem; de repente há união.
Na hora da dor, aí sim um olha para o outro com dó.
Por Gisele Portes