Enterre seus Mortos

Não tenha medo de enterrar seus mortos:
no caixão eu deixo minha falsa esperança,
coloco uma coroa de flores ao lado de velhas fotos,
assisto ao funeral de meus problemas até que a noite me alcança.

A cada passo para mais longe desse túmulo,
mais que deixo para trás muito do que fui:
tudo que quero é apagar da minha mente o acúmulo
dos tijolos de traumas de um inferno que eu construí.

Ligo o chuveiro, uma água negra escorre de minha pele,
é o passado indo para o ralo, junto com vozes que não mais ouvirei.
Coloco esparadrapo nas bocas já mudas – só quero algo que me libere
desse ódio que ainda agoniza, e o queimo com o resto das velas que comprei.

Quando tudo se cala na minha mente agitada,
posso enfim ver que o pior já passou e respirar com alívio.
Livre dos pesos, agora tenho forças para limpar a casa bagunçada,
jogando para fora toda a sujeira dos que de minha essência foram só desvio.

Por Gisele Portes

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